Doutrina Espírita
A História do Espiritismo.
A invasão organizada e Os fenômenos de Hydesville
História do Espiritismo
Em “História do Espiritismo”, Conan Doyle documenta boa parte da evolução da mediunidade, lembrando que embora se considere a data de 31/03/1848 como o marco inicial, os fatos espíritas existiram desde todos os tempos. A sua narrativa começa, assim, por volta de 1740, quando Swedenborg tornou-se famoso pela vidência à distância.
A seguir, escreve sobre Edward Irving, Andrew Jackson Davis (o profeta da nova revelação), o episódio de Hydesville, a carreira das Irmãs Fox, as primeiras manifestações na América, a aurora na Inglaterra, as pesquisas de Sir William Crookes etc.
Em 11 de dezembro de 1847, John D. Fox mudou-se com sua família, para Hydesville, vilarejo típico do Estado de New York, cerca de 32 km da cidade de Rochester, no Condado de Wayne, indo morar numa casa considerada assombrada pelos antigos moradores, por se ouvirem ali estranhos ruídos.
No entanto, só no ano seguinte foi que os ruídos, notados pelos inquilinos anteriores, voltaram a ser ouvidos. A família Fox, de religião metodista, só se sentiu seriamente perturbada a partir de março de 1848, quando as batidas tornaram-se mais violentas e o barulho de móveis sendo arrastados, mais nítido. As meninas, Margaret, de 14 anos e Kate, de 11, assustadas com os inexplicáveis ruídos, recusaram-se a dormir sozinhas em seu quarto e passaram para o dos pais.
Na noite de 31 de março de 1848, as pancadas tornaram-se tão violentas que Kate, a mais jovem, desafiou a força invisível que as causava, a repetir as batidas que ela dava com os dedos. A resposta foi imediata, embora o desafio da mocinha tivesse sido feito em palavras brandas. Cada pedido era respondido por um golpe.
A mãe das meninas, que acompanhava o episódio, teve então a ideia de fazer um teste: pediu que fossem indicadas, por meio de pancadas, a idade de seus filhos. As respostas, corretas, não tardaram.
Desejando que o fenômeno fosse testemunhado por outras pessoas, a família chamou alguns vizinhos, naquela mesma noite, que também fizeram perguntas e receberam respostas, por meio de batidas. Com o passar das horas, e conforme a declaração da inteligência invisível, descobriu-se que era um espírito; tinha sido assassinado naquela casa, há cinco anos passados, e enterrado na adega. Utilizando o alfabeto para obter respostas por meio de arranhões, nas letras correspondentes, foi obtido o nome do morto Charles B. Rosma (o esqueleto humano foi descoberto ali, muito mais tarde, em 1904).
No dia seguinte, a notícia já se havia espalhado e a casa ficou repleta de curiosos. Gente numerosa ouviu os ruídos insólitos e houve sérias investigações firmando-se a autenticidade do fenômeno.
Indagado a respeito da finalidade de semelhante tumulto, respondeu um espírito: “Nosso objetivo é que a Humanidade inteira viva em harmonia e que os céticos se convençam da imortalidade da alma. (…)”
Assim, os fatos vieram confirmar a estranha denúncia de um morto, que vinha relatar a ação criminosa de que fora vítima, havia anos.
Entretanto, é preciso considerar o episódio em suas verdadeiras finalidades, porque inúmeros crimes semelhantes se dão e nem por isso as vítimas os denunciam, de modo semelhante. Nem a finalidade da comunicação era a punição do culpado (que disso se encarregam, sempre, as leis divinas), porque à pergunta sobre se o assassino podia ser punido pela lei, se podia ser levado ao Tribunal, nenhuma resposta foi dada.
“É para unir a humanidade e convencer as mentes céticas da imortalidade da alma”, disseram os Espíritos; era de fato o início de um movimento de caráter quase universal, tendente a despertar a Humanidade para a vida espiritual, que seria revelada, pouco depois, pela Codificação da Doutrina Espírita, tarefa gigantesca a ser realizada pelo grande missionário Allan Kardec.
“Era como uma nuvem psíquica, descendo do alto e mostrando-se nas pessoas suscetíveis”, escreve A. Conan Doyle, em sua “História do Espiritismo”, porquanto os fatos insólitos, os raps, produzidos pelos Espíritos batedores, se multiplicavam, despertando consciências através de mensagens apropriadas.
As “mesas girantes”
Mesas de vários tipos e tamanhos (de preferência pequenas) levantavam um pé, movimentavam-se subindo, dançando; ditavam mensagens; compunham música; iravam no ar, sem qualquer apoio.
Eram as chamadas “mesas girantes”, que invadiram vários países (Estados Unidos, onde foram precedidas pelo conhecido “episódio de Hydesville”, Canadá, França, Alemanha, Itália, Inglaterra, Brasil), despertando as consciências adormecidas no comodismo de religiões paternalistas ou narcotizadas pelos enleios do materialismo grosseiro, das vidas sem perspectivas espirituais definidas.
Emma Hardinge, em sua “History of Modern American Spiritualism”, relata que “as mesas não se limitavam a levantar-se sobre um pé para responder às perguntas que se faziam, moviam-se em todos os sentidos, giravam sob os dedos dos experimentadores, às vezes se elevavam no ar, sem que se descobrissem as forças que as tinham suspendido”.
Muitos anos depois outro notável pesquisador psíquico assim se referia aos fenômenos das “mesas girantes”:
“Paris inteira assistia, atônita e estarrecida, a esse turbilhão feérico de fenômenos imprevistos que, para a maioria, só alucinadas imaginações poderiam criar, mas que a realidade impunha aos mais céticos e frívolos.” – Dr. Antônio J. Freire, “Da Evolução do Espiritismo”, 1959.
Nos anos de 1853 a 1855 as “mesas girantes” constituíram, aparentemente, um passatempo para animar a frivolidade dos salões e a curiosidade das massas, mas atendiam, em verdade, a uma determinação do Alto, despertando consciências para a revelação concreta da imortalidade da alma e para o recebimento do Consolador, prometido por Jesus há muitos séculos e consubstanciado no Espiritismo, que logo seria ditado a Kardec, pois os tempos eram chegados. Para tirar os homens do torpor espiritual em que viviam, para que se preparassem para receber uma nova Revelação era preciso, em verdade, que ocorressem fenômenos capazes de lhes provocar o medo, o assombro, a maior curiosidade. E assim foi. O fato de objetos inanimados, as mesinhas pés-de-galo, o mocho (banco de piano), as cestinhas, movimentarem-se sozinhos em todos os sentidos, girando, dançando, ditando mensagens, dando respostas inteligentes, compondo músicas, provocou tremenda celeuma em todas as classes sociais, cada qual procurando uma solução para ele, de acordo, é natural, com seus conhecimentos, ideologias religiosas e princípios filosóficos. A ciência acadêmica simplesmente negava os fenômenos, de cima de sua imensa sabedoria, como aliás já fizera, antes, com outros fatos, também incontestáveis; entretanto, muitos de seus membros, vindo a estudá-los, honestamente lhes proclamaram a veracidade.
A Igreja, convencional, não os podendo negar, simplesmente, os atribuía ao demônio, como ainda hoje continua fazendo, por comodismo. Isso não impedia, entretanto, que o Padre Ventura de Raulica, o mais ilustre representante da teologia e filosofia católicas do Século XIX, da França, chamasse os fenômenos de “o maior acontecimento do século”.
Os fenômenos das “mesas girantes” eram produzidos, como sabemos, por Espíritos e a maior lição que deles podemos tirar é a da imortalidade da alma e a da comunicação, que sempre houve, entre os encarnados e os desencarnados.
Referências Bibliográficas
BARBOSA, Pedro Franco. As “Mesas Girantes”. In: – O Espiritismo Básico. 2 ed. (1 ed. FEB, revista e ampliada pelo autor). Rio de Janeiro: FEB, 1986.
DOYLE, Arthur Conan. A História do Espiritismo. A História de Swedenborg. In:_. A História do Espiritismo. São Paulo: Pensamento, 1960.
WANTUIL, Zêus & THIESEN, Francisco. Andrew Jackson Davis. In:_. Allan Kardec. Pesquisa bibliográfica e Ensaios de Interpretação. Rio [de Janeiro]: FEB., 1980. v. 2.